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Carta aberta aos jovens adultos

  • Foto do escritor: Danilo Magalhães
    Danilo Magalhães
  • 13 de jun. de 2024
  • 2 min de leitura

Danilo Magalhães

05/05/2024

 

         Se pudesse deixar um conselho a meus amigos, ou, a qualquer pessoa que se importa com o que eu digo, seria: quando a chegar a hora, faça um chá de casa nova!

         Minha vida inteira desfiz da tradição, achei que isso era bobagem. Antiético, até. Me sentia desconfortável com os convites para apreciar um prato de feijoada em troca de um liquidificador. Afinal de contas, se alguém conscientemente escolhe sair de casa – por matrimônio, amancebamento, ou aventura – por que diabos deveria transferir sua responsabilidade para outros?

         E, com este ingênuo raciocínio, foi que saí de casa. Não quis festa, nem reunião. Mas, aceitei de bom grado os presentes que me foram espontaneamente oferecidos. Não gosto de fazer desfeita com ninguém.

         Vou contar um segredo a quem está lendo (que, nem é tão secreto assim, talvez, apenas, para os puros de coração): o mundo, num primeiro momento, se resume a burocracias. De todos os tipos. E, custosas! Resmas e resmas de papeis timbrados que serão solenemente engavetados imediatamente após sua assinatura. Você passará os próximos anos sem que nenhum desses esteja ao alcance de sua vista.

         Pela minha experiência, eis o que vem em seguida: uma cama, uma televisão, um fogão e uma geladeira. Pouco tempo depois, seguindo a tendência natural dos jovens adultos dos anos 20, uma air fryer. Vá por mim, todos querem participar do culto a esse novo deus que retorna batatas fritas a cada oração. Passaram-se anos até que pudesse substituir o armário enferrujado da cozinha por móveis planejados de madeira falsa. Que, por sinal, ficaram lindos!

Nunca havia me sentido tão adulto.

No entanto, a cada novo utensílio, eletrodoméstico, ferramenta, me vinha o arrependimento. Questionei toda minha vida. Passei pente fino em cada traço de minha personalidade buscando entender por que, mas, por que ter tomado decisão tão boba. Por que diabos não fiz o tal chá de casa nova?

Parecia que a sociedade ria de mim. Hoje, entendo que com razão! Ritos de passagem são importantes, ainda mais esse, que significa acolhimento, aceitação, cuidado comunitário e coletivo com aqueles que iniciam suas vidas novas fora de casa.

Mas, eu não entendia. E, por isso, paguei preços altos. Literalmente.

Meu deus... Como pano de chão é caro!

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